Uma cruz de madeira fixada numa espécie de altar de concreto, no acostamento do km 104 da rodovia João Leme dos Santos, a SP-264, que liga Sorocaba a Salto de Pirapora, evidencia que aquele trecho da estrada fora palco de um acidente trágico.
A inscrição em tinta preta, que traz grafada a data 26/08/2010, relata a morte do pedreiro Ederson Rodrigues dos Santos, de 28 anos, conhecido como ‘Careca’. Ele foi atropelado duas vezes quando tentava atravessar a pista. Episódios como este tornaram-se corriqueiros nos dezesseis quilômetros e setecentos metros da SP-264 e infelizmente fazem parte do cotidiano de quem precisa trafegar por uma das principais rodovias da região.
O perigo também está claro nos dados estatísticos e somente nos primeiros nove meses dos últimos quatro anos, de 2007 a 2010, casos como de ‘Careca’, ocorreram dezoito vezes na mesma estrada.
Os acidentes multiplicam-se gradativamente a cada ano e somados chegam a 547 casos. Num comparativo entre o ano passado e este ano, de janeiro a setembro, o aumento foi de 24,2%, 128 casos em 2009 e 159 este ano. Os dados são da 1ª. Companhia do 5º Batalhão de Polícia Rodoviária, situada em Sorocaba.
Além dos acidentes, outra crescente numérica é no Volume Diário Médio (VDM) da SP-264, calculado pelo Departamento de Estradas de Rodagem (DER) da Secretaria de Transportes do Estado de São Paulo. O movimento de veículos que trafega diariamente pela rodovia cresceu 14%, passando dos 7.581 em 2006 para o 8.647 no ano passado.
Um dos fatores deste crescimento, deu-se pela instalação em 2006, no km 110 da SP-264, do câmpus da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), e que, atualmente recebe todos os dias mais de 2 mil pessoas entre alunos, professores, técnicos e funcionários de outros setores.
Em todo seu trajeto ainda, que passa pelos municípios de Sorocaba, Votorantim e Salto de Pirapora, existe entre os quilômetros 102,5 ao 119,2, quatro bairros, como o Jardim Tatiana (situado no km 103), o Green Valley (km 106), Itinga (km 110) e Jardim Elizabete (km 119). Vale ressaltar ainda o crescimento de empreendimentos imobiliários às margens da rodovia.
Outro dado importante de referência é que muitos moradores de Salto de Pirapora, com população de 38.174 habitantes, segundo o Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), trabalham em Sorocaba e são obrigados a utilizar a SP-264 diariamente.
Entretanto, todo este quadro apresentado, não sensibilizou o Governo do Estado de São Paulo, que por inúmeras vezes prometeu a duplicação da estrada. Nem mesmo a força política da região, que possui três deputados estaduais e ainda um prefeito da maior cidade (Sorocaba), que pertence a mesma sigla partidária do governo (PSDB), foi capaz de fazer a rodovia João Leme dos Santos deixar de ser pista simples de mão dupla de direção.
Caminhões
O aumento no tráfego de caminhões na SP-264 foi considerável também nestes últimos anos. Um dos motivos é que a Prefeitura de Votorantim proibiu, desde fevereiro do ano passado, que caminhões transitassem pela avenida 31 de Março. A partir daí, a João Leme dos Santos tornou-se alternativa para motoristas de veículos de carga que seguem em direção à SP-79 (Votorantim/Piedade), acesso da região para o sul do país (pela BR-116, rodovia Régis Bittencourt).
Os dados foram inclusive confirmados, pelos dados estatísticos do DER, com aumento crescente de 14% no número de caminhões, 1.330 de 2006 para 1.517 em 2009. Só que o Volume Diário Médio (VDM) registrado em 2009 é considerado defasado por usuários da SP-264, tendo em vista que o próprio DER indica que os dados são projetados com base apenas na evolução de tráfego. O exemplo efetivo é que tanto o VDM, como o aumento do número de veículos pesados, têm o mesmo índice de crescimento, 14%.
Atropelamentos
O número de atropelamentos, principalmente em trechos habitáveis, como nos quilômetros 103, 106 e 110 e 119, também teve aumento nos últimos anos. De 2007 para cá, somente até os meses de setembro, foram registrados 27 casos. O aumento de 2009 para 2010 foi de 14,2%, com sete casos no ano passado e oito episódios este ano. Nestes quase dezessete quilômetros, não existe sequer uma passarela, em todo trecho de Sorocaba a Salto de Pirapora. Em relação aos acidentes, dos 547 registrados nos três primeiros semestres de 2007 para 2010, 47,3% dos casos (259 deles) tiveram vítimas, entre leves e graves.
Secretaria do Transporte
A reportagem do jornal Cruzeiro do Sul encaminhou um e-mail, na quinta-feira retrasada (dia 4 de novembro), com inúmeros questionamentos à Secretaria de Transporte, inclusive sobre a possibilidade de duplicação. No entanto, até o fechamento desta edição no dia 11 (quinta-feira), nenhuma resposta havia sido dada.