Silvio Crestana é um dos 56 cientistas convidados do seleto grupo que vai se reunir entre os dias 18 e 21 de julho, no Environmental Change Institute, da University of Oxford, em Oxford (UK), onde vão discutir e elaborar projetos alinhados a uma nova proposta de modelagem matemática para sistemas alimentares. As ações serão desenvolvidas durante o workshop "Modelling food systems for resilient and sustainable nutrition and health on a changing planet".
Após a elaboração, as propostas serão submetidas aos editais abertos por instituições de fomento no setor agropecuário da União Europeia. Esta é a segunda edição do evento. A primeira foi realizada em abril de 2015, em San Jose, na Califórnia (EUA).
Pesquisador da Embrapa Instrumentação (São Carlos, SP), o físico foi convidado pelo comitê organizador do evento para integrar o grupo composto por cientistas de 40 instituições de 14 países dos continentes asiático, americano, europeu e Oceania. O professor da Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" (Esalq), campus da USP, em Piracicaba (SP), Joaquim Ferreira Filho, é outro cientista brasileiro convidado para participar das discussões.
Os organizadores do evento pretendem com o workshop, de alto nível, introduzir novas ferramentas, comunidades e agendas de pesquisa nas discussões dos modelos de sistemas alimentares. Eles acreditam que essas ferramentas precisam se tornar acessíveis e evoluir para atender os desafios de novas áreas de aplicação e as demandas que orientam a política alimentar.
Presidente da Embrapa de janeiro de 2005 a julho de 2009, Silvio Crestana, disse que se sente honrado pelo convite e, principalmente, por poder participar das discussões de um projeto desde a fase inicial. "Não vamos dar sugestões em um projeto que já está pronto, mas sim debater questões estratégicas na área de alimentos, construir uma proposta a partir destas discussões com especialistas renomados de várias instituições reconhecidas mundo afora, para competir nas chamadas da União Europeia", afirma.
O pesquisador, que vai realizar palestra no primeiro dia do workshop sobre agricultura inteligente, internet das coisas, tecnologias agrícolas, entre outros assuntos, considera o evento uma oportunidade importante para o país, líder mundial na produção de alimentos e ainda um excelente momento para estabelecer parcerias com importantes instituições de pesquisa presentes no workshop.
Entre os participantes, destacam se cientista da John Hopkins University, fundada em 1875 e considerada uma das instituições acadêmicas de pesquisa mais importantes do mundo e entre as de maior prestígio dos Estados Unidos, bem como a própria University of Oxford, que sedia o evento, fundada por volta de 1096.
Sistemas alimentares
O chefe do Programa de Sistemas Alimentares do Environmental Change Institute (ECI), John Ingram, em carta de boas-vindas encaminhada aos convidados, diz que a ampla gama de habilidades e experiência dos participantes vai permitir excelente discussão sobre a forma de desenvolver a capacidade de modelagem necessária e o seu uso potencial em uma série de aplicações, além de ajudar a mapear as necessidades para futuras pesquisas nesta importante área.
Ingram afirma que os sistemas alimentares operam em vários níveis e escalas espaciais e temporais, atravessam vários setores e disciplinas, incluindo a produção primária, fabricação e distribuição, energia e tecnologia, economia e comércio, cultura e experiência social.
Como são sistemas altamente complexos, o chefe do programa comenta que eles têm impacto importante nos fatores econômicos e socais, sendo significativamente sobre o meio ambiente, mas lembra que estão ocorrendo mudanças nos padrões de consumo devido ao aumento da riqueza, da globalização, com consequências no setor de energia e água.
Por isso, Ingram afirma que para preservar a disponibilidade, acesso e utilização de alimentos nutritivos, além de reduzir impactos, há a necessidade de se ser capaz de analisar modelos, prever planos em torno destes sistemas complexos. Diante disso, ele diz que os desafios do programa do ECI é contribuir para enfrentar esses desafios em três áreas inter-relacionadas:
A primeira delas procura entender e descrever os processos e dinâmica do sistema alimentar, através da integração de conceitos de interconectividade, o comportamento da comunidade e organização espacial da agroecologia e ecologia humana.
Melhorar a governança do sistema de alimentação, melhorando a compreensão dos papéis respectivos, e interações entre o setor público e atores não governamentais e privadas, além de outros que orientam a gestão de alimentos dentro de uma complexa rede de governos, organizações e cidadãos é a segunda área apontada por Ingram.
A terceira refere-se à melhoria da eficiência do sistema alimentar na utilização de recursos e mitigação de resíduos, através da identificação de sinergias e análise de trade-offs entre segurança alimentar e os resultados ambientais de uma gama de políticas e intervenções técnicas em todo o sistema alimentar, incluindo potenciais impactos de mudança na dieta.
O chefe do programa acredita que essas três áreas possam contribuir, beneficiar e melhorar a capacidade de modelagem do sistema alimentar. "Vai melhorar o alinhamento de técnicas matemáticas para análise de sistemas alimentares quantitativa, sustentado por uma linguagem de modelagem refinada e melhorada", diz.
Adoção de diretrizes
De acordo com um estudo realizado pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), apenas 83 dos 215 países pesquisados adotam diretrizes alimentares para a população. Publicado em maio de 2016, o levantamento aponta que somente quatro países – Brasil, Alemanha, Suécia e Qatar – consideram tanto aspectos de saúde como a sustentabilidade ambiental.