Com sessões gratuitas aos sábados, às 20 horas, o Cineclube do Centro de Divulgação Científica e Cultural (CDCC) da USP em São Carlos promoverá a seguinte programação neste mês de agosto:
8 – CISNE NEGRO
Black Swan, EUA, 2010, Drama/Suspense, 108 minutos
Direção: Darren Aronofsky
Elenco: Natalie Portman, Vincent Cassel, Mila Kunis, Winona Ryder, Barbara Hershey
Cisne Negro, como em As Bicicletas de Belleville, desenho francês consagrado pelos seus traços, explora a obsessão humana pela perfeição, alcançando o extremo da resistência e atingindo os limites psicológicos da mente. O corpo se torna o instrumento principal para saciar a compulsão da consciência, findando um retrato amargo da espécie humana, com culpa exclusiva da evolução genética, em que a tática para manter a sobrevivência não é mais os instintos biológicos, mas o desejo e a psiconeurose em alcançar específicos estratos e estados de sensações. E embora tudo aparente mítico, se elucida tanto quimicamente quanto pela arte. O diretor, para ilustrar toda esta abstração, constrói a história de Nina que anseia por tornar-se a prima ballerina da companhia de um excêntrico aposentado bailarino. Em seu caminho há o cisne negro, a antítese de sua personalidade, que deve representar e se incorporar visceralmente na releitura do clássico O Lago dos Cisnes. Como naturalmente um cisne branco, frágil e virginal, Nina sofre com a pressão do novo papel, do professor e de uma nova concorrente. Acompanhamos então sua gradual metamorfose e perda de sanidade. Seus pensamentos se confundem e ela se entrega, em meio à tensão, as experimentações sensuais e sexuais, estimuladas pelo professor e sua concorrente, com quem cria um laço intrincado. Em casa, sua mãe certamente instável molda a sua disciplina e a incita à perfeição, além de ser a responsável por manter a saúde de seu corpo-instrumento. O desfecho é a ambiguidade, a loucura disfarçada de concepção, como se a libertação requerida pudesse ser alcançada por Nina da única forma cabível a si, a modificação de si própria como elemento comburente, que lhe permitiria implodir e reconstruir-se em cisne negro, a forma perfeita, a sensação enfim alcançada. O diretor então prova seu ponto, e a sobrevivência enfim não tem mais por quê nem pra quê.
Lucas Marques Gasparino
NÃO RECOMENDADO PARA MENORES DE 16 ANOS
Tema: Rivalidade
Contém: Assassinato, consumo de drogas, relação íntima
15 – DANÇANDO NO ESCURO
Dancer in the Dark, Dinamarca, 2000, Drama/Musical, 140 minutos
Direção: Lars Von Trier
Elenco: Björk, Catherine Deneuve, David Morse, Cara Seymour, Peter Stormare
Em “Dançando no Escuro”, o enredo se concentra nas dificuldades de sobrevivência de uma imigrante tcheca e seu filho nos Estados Unidos, impiedosos com aqueles que ousam se aventurar por lá, em busca de um remédio a suas dores existenciais e patológicas. Selma é a personagem que fará deste filme uma obra de crítica, direcionada a atacar o ego e a auto-piedade. Mas tudo isto é acompanhado de uma atmosfera melancólica que nos é pouco familiar, tornando as situações mais amenas e menos parecidas com a realidade, que só é resgatada pela sagacidade humana de julgar o caráter de outrem. Assim, imediatamente projetamos as dores de cada personagem como nossas, e então nos ferimos, sem remorsos, sem receios.
Selma, passiva e dançante, interpretada pela cantora Björk, canta de forma incomum qualquer momento que ofereça atenção, desde seu trabalho maquinal e de jornada dupla na fábrica até à quantidade de passos que lhe separam de seu destino fadado e injusto. Mesmo com a deficiência que adquire gradativamente, ela não se deixa vencer pela limitação, suas necessidades instintivas de mãe lhe dão a força para continuar rumo aos seus objetivos puros e incorruptíveis. E é então que dos laços que ela cria para suceder seus próprios desígnios que surge a adversidade que põe à prova o mérito da vida.
Além dos massacres aos mais fracos nas interações sociais, Lars Von Trier explora a finitude do cosmo ao retratar as supostas injustiças genéticas que imperam sobre qualquer outro aspecto característico, que tem o sofrimento do ser vivo como a ferramenta principal para manter a vida. Assim, a perspectiva do diretor para os sofrimentos de Selma na sociedade transcende o clichê semântico de que a natureza humana é má: vai além, alcança o significado da existência e de toda a luta do primeiro ser vivo pela sobrevivência: a vida torna-se a própria culpa.
Lucas Marques Gasparino
NÃO RECOMENDADO PARA MENORES DE 16 ANOS
Tema: Vida
Contém: Violência
22 – SONHOS EM MOVIMENTO
Tanzträume, Alemanha, 2010, Documentário, 92 minutos
Direção: Anne Linsel, Rainer Hoffmann
Elenco: Pina Bausch, Bénédicte Billet, Josephine Ann Endicott
É um documentário da última atividade de Pina Bausch, filmado pouco antes de sua morte, que num processo com início unicamente criativo, remontaria o espetáculo Kontakhof somente com adolescentes. O projeto explora o desenvolvimento dos jovens sem qualquer dote técnico rumo ao experimentalismo que é a dança. Livres da veneração a Pina (alguns sequer a conheciam antes do trabalho), o mérito é a tentativa de reconstruir harmoniosamente movimentos que podem ser alcançados não só pelas habilidades, mas pela expressividade, pela leveza e pelo deixar-se entregar. Como Wenders fez em Pina, a diretora de Sonhos em Movimento tentou complementar seu filme com as experiências amorosas e familiares de cada jovem, mas diferente do primeiro, foram simplesmente informações fornecidas, não contribuíram para a criação da atmosfera. Assim, o elemento válido que se pode apreender sumariza-se das tentativas de movimentos e das instruções das colaboradoras de Pina, que aparentam a máxima sabedoria da linguagem que é a dança: os jovens são impregnados pela sensibilidade e pela disciplina.
Cada dificuldade em executar com perfeição um passo é sucedida pela moral da superação de barreiras e de inibições; o compromisso torna-se aspecto presente, alimentado pela competitividade e pelas amizades criadas. Com tranquilidade, Pina conduz a atividade pacientemente, ciente das iniciais limitações e problemáticas. Quase sempre ausente, quando aparece aos jovens, causa-lhes medo e insegurança, a figura que lhes é sempre apresentada pelos outros é mítica, inebria a todos e é reconhecida mundialmente. Ali, presente, a coisa se mostra real e se potencializa: a aprovação por Pina é a superação máxima.
O desfecho é o espetáculo. Para quem já havia visto o original Kontakhof, ou mesmo aquele apresentado como tributo à Pina após sua morte, certamente não se surpreenderá e não sentirá sentimento tal igual. Mas não invalida a grandiosidade desta experimentação que dispensou dotes técnicos e mostrou ao mundo a dança como uma agradável linguagem sem limitações.
Lucas Marques Gasparino
LIVRE PARA TODOS OS PÚBLICOS
Tema: Dança
29 – BILLY ELLIOT
Billy Elliot, França/Inglaterra, 2000, Drama, 110 minutos
Direção: Stephen Daldry
Elenco: Jamie Bell, Julie Walters, Jean Heywood, Jamie Draven
Aspirante à pugilista, Billy Elliot, com seus onze anos de idade, se mostrava um desastre. Seu gingado não era adequado para aquela atividade em que a menor desatenção custaria um hematoma, seu corpo clamava por emoções e sensações que não eram encontradas naquele esporte, uma infelicidade para seu pai. Mas, em meio a estes acontecimentos, um espetáculo estava prestes a ter início, porém com cenário, cortinas e palco precários.
O cenário era a Inglaterra de 1984, pós-conflagração de uma greve nacional dos mineradores de carvão, o palco, a cidade de Durham onde Billy morava com seu pai, irmão e avó, que havia se tornado um caos e as cortinas, as reviravoltas que acometiam os grevistas que lutavam pela permanência de seus empregos. A situação política do país exercia um protagonismo marcante na vida das famílias ligadas a mineração e entre elas, estava a família Elliot.
Seu pai e irmão estavam ligados ao sindicato, membros ativos nos piquetes, constantemente entravam em choque com a polícia que tinha como um propósito oficial, a ordem. Uma excepcional camuflagem para as intenções dos patrões da mineração e do governo de Margaret Thatcher, a Dama de Ferro.
Neste espetáculo, não era a rainha Elizabeth II quem reluzia, mas Billy com sua estrela por vezes ofuscada devido às reviravoltas de sua nova realidade. Os obstáculos ainda que constantes, eram superados e então palco, cortinas e cenários aprimorados. Mas desta vez, o ringue do pequeno Elliot era outro, livre de cordas, ausente de árbitro e inexistente os rounds, havia apenas os atos cênicos e o transcender de sua genialidade.
Marlon dos Santos Melhado
NÃO RECOMENDADO PARA MENORES DE 12 ANOS
Tema: Adolescência
Contém: Conflitos psicológicos atenuados, violência
Apoio cultural da Locadora Vídeo 21.
O CDCC fica na Rua nove de julho, 1227, Centro.
Mais informações:
Tel.: (16) 3373-9772