Com sessões gratuitas aos sábados, às 20 horas, o Cineclube do Centro de Divulgação Científica e Cultural (CDCC) da USP em São Carlos promoverá a seguinte programação neste mês de setembro:
5 – ERA UMA VEZ EU, VERÔNICA
Era uma vez eu, Verônica, Brasil, 2012, Drama, 91 minutos
Direção: Marcelo Gomes
Elenco: Hermila Guedes, João Miguel, Renata Roberta, W.J. Solha
“Era uma vez eu, Verônica” é um filme de reflexão do cotidiano: das relações familiares, das escolhas amorosas e dos caminhos profissionais. Verônica é recém-formada em medicina e trabalha num hospital público precário. Ciente das condições e dificuldades dos pacientes, ela os atende pacientemente e sem julgamentos, como se tivesse o conhecimento pleno das causas das enfermidades sociais e suas infelizes consequências nos indivíduos das classes mais pobres. Paralelamente à questão coletiva, Verônica mergulha em seu próprio interior: desconhece a si própria e se envolve numa depressão de emoções egoístas e desejo de evasão. Mesmo na reciprocidade do suposto amor ela não encontra algo que lhe afague o íntimo.
Com o drama colocado à mesa, o filme se concentra em detalhar o comportamento de Verônica em meio a esta crise existencial: as interações com as amigas de faculdade e sua fuga ao sexo, à bebida e às festas e seus prazeres. Também é denotada a profunda relação com seu pai, de mútua admiração e responsabilidade: de um lado o velho se sente orgulhoso pela filha médica e é frequentemente tomado pela emotividade e pela bebida, aclamando o tempo todo as escolhas da filha; doutro lado Verônica perdeu a mãe, e assim se sente agraciada pelo pai empenhado e consequentemente necessária para a felicidade dele.
A cidade de Recife, o povo e o sentimento são a composição do filme, dispensando desfechos de conto de fadas. E embora a trama não evolua com o tempo, ela se complementa exatamente pela ausência, causando a sensação de vazio, embora haja fartura, refletindo assim a amarga dor de Verônica, que vem do nada, mas diz muito: a vida se padroniza, os costumes cansam, os caminhos se perdem e os dias se esvaem. Pois então o diretor deixa a sua mensagem, desindividualizando o sofrimento e o tornando inerente ao ser humano.
Lucas Marques Gasparino
Não recomendado para menores de 16 anos
Tema: Descobrimento pessoal
Contém: Relação íntima
12 – Não haverá sessão
19 – A BUSCA
Brasil, 2012, Drama, 96 minutos.
Direção: Luciano Moura
Elenco: Wagner Moura, Lima Duarte, Mariana Lima.
“A Busca” é um filme que retrata a relação familiar e do cotidiano: relação amorosa, relação de pai e filho. Theo Gadelha, médico, pai de Pedro, tem uma relação conturbada com sua ex- esposa, Branca. A incompreensão de Theo com seu filho resulta em um afastamento entre ambos, desencadeando assim, uma maior degradação do seu relacionamento familiar.
A trama se concentra em uma viagem de Pedro, que acaba não retornando a casa de seus pais. Com o possível desaparecimento do filho, Theo retoma seu contato com a esposa, unindo esforços para encontrá-lo. Porém, somente Theo inicia a busca, tendo em vista a fragilidade de Branca com a complexidade da situação. Neste período, o naturalismo é destacado com frequência, deixando de forma clara as dificuldades enfrentadas por personagens anônimos, que cruzam o caminho de Theo. Os problemas enfrentados pelos personagens refletem o cotidiano brasileiro. Os sentimentos expressados por Theo durante a busca refletem o desespero e a impaciência, tentando manter o controle da situação e a forma como ele se molda psicologicamente diante de pessoas de diferentes costumes. O amor por Branca se desdobra durante a trama, tomando novos rumos a cada acontecimento, mesmo com a rejeição dela. O desafeto de Theo com seu pai torna-se evidente, mostrando uma relação distante. Embora a trama retrate de forma intensa a busca, o foco maior se concentra nas histórias paralelas que ocorrem, mostrando diferentes sentimentos, ações e estilos de vida, retratando o dia a dia do brasileiro.
Renan Strano de Oliveira
Não recomendado para menores de 12 anos
Tema: Investigação
Contém: Conteúdo sexual, drogas
26 – PRAIA DO FUTURO
Brasil, 2014, Drama, 106 minutos
Direção: Karim Aïnouz
Elenco: Wagner Moura, Clemens Schick, Jesuíta Barbosa
“Praia do Futuro” é sobre a reconstrução humana catalisada pela impotência frente a um mundo colossal estruturado em padrões indiferentes às individualidades. Donato, interpretado por Wagner Moura, é um salva-vidas numa praia de Fortaleza. Em meio a sua aparente vida paradisíaca e mesmo com a saúde imaculada pela harmonia perfeita do ambiente, sua mente se perde em medos e incertezas. Ironicamente ele é desumanizado: seu irmão o considera um super-herói e sua personalidade é engendrada pela projeção do que os outros veem nele. Vivendo assim, ao sofrer uma derrota na vida, começa o processo de transição de sua mudança, que lhe fornecerá a liberdade, mas não sem sacrifícios. Não conseguindo socorrer um dos dois amigos turistas que se afogavam em sua praia, Donato inicia uma relação amorosa com o alemão sobrevivente Konrad. Agora eles vivem a melancolia conjunta, apoiando-se um no outro com as dores, os momentos de felicidades e os prazeres tropicais. E desta sensação de se entregar e não fingir ser quem não é, Donato encontra as forças para abandonar Fortaleza e partir para Berlim, de clima ruim e atmosfera pesada, mas que lida melhor com as diversidades e permite cada indivíduo manifestar seus próprios interesses.
Tendo abandonado sua família e sido agora humanizado e não segregado, Donato se sente melhor do que nunca, até receber a inesperada visita de seu irmão mais novo e relembrar o que deixou para trás, mas ainda assim sem arrependimentos. O garoto, em contrapartida ao irmão, mesmo sendo pequeno e aparentemente vulnerável, demonstra uma implacabilidade e indiferença em relação às coisas do mundo que lhe podem afligir o corpo e a mente; e é deste sentimento supostamente superior que lhe surge o desconhecido que ele não consegue enfrentar: as consequências da liberdade desenfreada, pura e logicamente movida pelos instintos de sobrevivência, que o tornam um ser humano impossível de existir, que tem a vida garantida somente enquanto o filme durar.
“Praia do Futuro”, em sua própria história previu a recepção pelo público brasileiro, que foi tormentosa e barulhenta, tornando o que deveria ser natural em assunto. Mesmo assim, o filme arrebatou diversos prêmios, comprovando tanto sua qualidade técnica quanto de contribuição artística e social.
Lucas Marques Gasparino
Não recomendado para menores de 14 anos
Tema: Relacionamento
Contém: Drogas lícitas, nudez, relação íntima
Apoio cultural da Locadora Vídeo 21.
O CDCC fica na Rua nove de julho, 1227, Centro.
Mais informações:
Tel.: (16) 3373-9772