Com sessões gratuitas aos sábados, às 20 horas, o Cineclube do Centro de Divulgação Científica e Cultural (CDCC) da USP em São Carlos promoverá neste mês de abril o Ciclo: Cinema Russo.
O Cinema da Rússia é um dos mais antigos e importantes da história. Diretores como Serguei Eisenstein e Dziga Vertov foram pioneiros da linguagem, da teoria e da estética cinematográfica, sugerindo e definindo padrões que influenciaram realizadores no mundo todo. Ainda durante o período Czarista, diretores adaptaram obras de autores clássicos como Tolstói, Dostoiévski e Puchkin para as telas, criando os primórdios do cinema russo. Logo após a Revolução de 1917, o novo governo bolchevique deu grande incentivo às produções cinematográficas por considerá-las peças estratégicas para propaganda ideológica. Em 1919, o cinema é nacionalizado e é criada a primeira escola de cinema do mundo (o VGIK). O cinema torna-se o principal veículo de comunicação, educação e propaganda.
5 – A INFÂNCIA DE IVAN
Ivanovo Detstvo, União Soviética, 1962, Drama, 60 minutos
Direção: Andrei Tarkovsky
Elenco: Nikolai Burlyayev, Valentin Zubkov, Yevgeni Zharikov, Stepan Krylov, Nikolai Grinko
Uma abordagem incrível da Segunda Guerra Mundial pela visão de uma criança, onde um menino cheio de sonhos e anseios tem sua infância e inocência perdidas.
Marcado por cenários desoladores de guerra, com corpos mutilados e carbonizados, além de cidades completamente arrasadas, A Infância de Ivan mostra de uma forma dura e maravilhosa, a humanidade dos seus personagens, especialmente a de um garoto.
Ivan, feliz ao lado de sua mãe como qualquer outra criança, sem preocupações e nem deveres, vê-se abatido e desolado em meio a sua nova realidade. Na companhia dela, o garoto vivia alegremente, até que em um dia como qualquer outro e fazendo uma atividade costumeira, ao brincar dentro de um poço, ele se vê só. Tratado como apenas mais um órfão de guerra, o menino encontra na vingança um objetivo para continuar vivendo, mesmo que uma vida turva e cinzenta.
Nesses cenários de dor e tragédias, apenas rápidos flashs de lembranças felizes nos sonhos de Ivan contrastam e iluminam o ambiente de guerra como um fino e breve feixe de luz, da alegre e inocente infância a dolorosa e violenta infância como espião militar.
Uma mudança na fisionomia de Ivan mostra claramente o que sobrara daquela alegre e inocente criança, apenas os vestígios físicos de um garoto que já não existe mais.
Na época, o jovem e desconhecido Andrei Tarkovsky emocionou plateias e a crítica internacional com seu primeiro longa metragem “A Infância de Ivan”. Foi o grande vencedor do Leão de Ouro de 1962 em Veneza, desbancando filmes dos consagrados Godard, Kubrick e Pasolini. Tarkovsky, sempre utilizou longas tomadas, explorando sempre a beleza da fotografia de uma maneira sem igual.
Marlon dos Santos Melhado
NÃO RECOMENDADO PARA MENORES DE 14 ANOS
Tema: Infância durante a guerra
Contém: Mutilação, nudez, violência
12 – STALKER
Stalker, União Soviética, 1979, Drama, 134 minutos
Direção: Andrei Tarkovsky
Elenco: Aleksandr Kajdanovsky, Alisa Frejndlikh, Anatoli Solonitsyn, Nikolai Grinko, Natasha Abramova
Stalker um dos melhores filmes de ficção científica de todos os tempos é uma adaptação livre do livro “Piquenique Na Beira Da Estrada”, dos irmãos Strugatsky. Nele é apresentada uma região conhecida como “A Zona”, um lugar singular na terra que tudo o que parece ser não é, e fenômenos inexplicáveis ocorrem.
A única forma de sobreviver na Zona provém da intuição de homens conhecidos como Stalkers, um seleto grupo de pessoas capazes de entrar em um lugar complexo e dinâmico, que parece realizar novas sinapses em conformidade com interações e alterações no ambiente.
A Zona, assim como um organismo vivo, parece ter um sistema imunológico que ao receber novos visitantes, reage imediatamente selecionando aqueles que são merecedores de seu maior prêmio: uma sala em seu interior capaz de realizar seu desejo mais íntimo.
Motivados pela sala dos desejos, dois homens o “professor” e o “escritor” contratam um homem para guiá-los, o Stalker como um nativo conhece o terreno muito bem, mesmo esse estando em constante transformação, e é capaz de vencer todos os obstáculos e armadilhas impostos pela zona. A Zona é indiferente aos produtos criados pelo consumismo assim como qualquer tipo de armamento bélico, estes se tornam obsoletos e degradados, mostrando que ela não obedece ao comportamento padrão contemporâneo, tornando a sua exploração um ato para aqueles em que a coragem ou o desespero atingiram níveis críticos.
A excelente fotografia juntamente com uma bela trilha sonora joga a audiência em estado de meditação, assim não somente os três viajantes entram em profunda introspecção e em contato com suas fantasias metafísicas.
Stalker proporciona uma incrível experiência cinematográfica para aqueles que apreciam tomadas de cenas lentas, ambientações bem construídas, diálogos filosóficos, poesia e o questionamento do seu próprio “eu”.
Álvaro Nonaka
NÃO RECOMENDADO PARA MENORES DE 12 ANOS
Tema: Dignidade humana
Contém: Agressão física
19 – NÃO HAVERÁ SESSÃO
26 – SIBÉRIA
Sibirskiy Tsiryulnik, Rússia/França, 1998, Drama/Romance, 180 minutos
Direção: Nikita Mikhalkov
Elenco: Julia Ormond, Richard Harris, Oleg Menshikov, Aleksei Petrenko, Marina Neyolova
Douglas McCracken, um desesperado e falido inventor, contrata uma conhecida para um serviço que promete tirá-lo das sombras do esquecimento, alavancar sua carreira e sua mais recente invenção, “O Barbeiro da Sibéria”.
Em 1885, Andrei Tolstói, um extrovertido cadete do exército russo e filho de uma famosa atriz, vaga com seus companheiros nas dependências de um trem com destino a Moscou. Com um grande e animado sorriso no rosto e sabendo que não tem parentesco nenhum com o grande escritor russo Liev Tolstói, o jovem e seus companheiros se deparam com uma inusitada situação ao invadirem a cabine de Jane.
Se deliciando com um espumante em sua cabine, ela é surpreendida pela invasão dos jovens, uma viagem até então bela e sem agitações pela perspectiva dos cenários gelados e encantadores daquele estranho país que a marcaria para sempre.
Encarregada da missão de conseguir o aval do governo russo para o financiamento da construção da máquina de McCracken, Jane irá buscar no colégio militar russo o sucesso de seu serviço. Sem saber onde estava se metendo, ela novamente se depara com Tolstói e seus companheiros enquanto enceravam o salão de festas do colégio, um reencontro que remodelaria alguns sentimentos.
Já em 1905, encorajada pela paz espiritual e disposta a revelar um segredo que teve início em Moscou, Jane decide encerrar seu martírio de duas décadas, para isso ela vai em busca de um elo com seu passado.
W. A. Mozart, um dos maiores compositores do ocidente, traz graça e leveza com pequenas participações musicais neste filme encantador.
Marlon dos Santos Melhado
NÃO RECOMENDADO PARA MENORES DE 12 ANOS
Tema: Romance
Contém: Drogas lícitas, violência
Apoio cultural da Locadora Vídeo 21.
O CDCC fica na Rua nove de julho, 1227, Centro.
Mais informações:
Tel.: (16) 3373-9772