Com sessões gratuitas aos sábados, às 20 horas, o Cineclube do Centro de Divulgação Científica e Cultural (CDCC) da USP, em São Carlos, promoverá a seguinte programação neste mês de junho de 2016:
4 – O MISTÉRIO DE KASBAH
Kasbah, Espanha/Argentina, 2000, Drama, 94 minutos
Direção: Mariano Barroso
Elenco: Ernesto Alterio, Natalia Verbeke, José Sancho, Elena Ballesteros
O Mistério de Kasbah retrata a vida de Mário, um jovem ambicioso e dedicado ao seu trabalho. Após trabalhar por vários anos em uma empresa no Marrocos, ele consegue ser promovido e retornar à Espanha. Mas, quando está próxima de retornar ao seu país, ele recebe o seu último trabalho: receber Laura, filha de seu chefe, que acabara de chegar de viagem.
Laura, porém, desaparece de forma misteriosa após a última ida de Mário ao Kasbah (centro de comércio local), obrigando-o a percorrer o país em sua procura. Sendo ele o principal suspeito do desaparecimento, diversos problemas irão aparecer durante sua jornada, colocando-o frente a frente com alguns personagens do seu passado que irão despertar dois extremos: seu lado ruim e seu lado bom. Um desses personagens é Alix, jovem dançarina e modelo, que busca no Marrocos aventura e diversão. Após o reencontro, os dois passam a procurar Laura juntos, despertando uma paixão repentina durante o trajeto, provocando drásticas mudanças em seu futuro. Victor, outro personagem de seu passado, ex-militar de nacionalidade misteriosa e extremamente racista, é contratado por seu chefe a fim de encontrar Laura e também evitar que ele a encontre primeiro.
Após o encontro com esses personagens, ele terá que acertar contas com seu passado, presente e futuro.
O filme trás consigo todas as características do Marrocos, como os costumes e principalmente a forma de comércio local. A questão da imigração é abordada com cautela, levando em consideração o comportamento do imigrante e até mesmo sua naturalidade, onde esses fatores podem despertar reações positivas ou até mesmo negativas da população e autoridades locais.
Renan Strano de Oliveira
NÃO RECOMENDADO PARA MENORES DE 16 ANOS
Tema: Desaparecimento
Contém: Violência, assassinato
11 – A INGLESA E O DUQUE
L’Anglaise et le Duc, França, 2002, Drama, 129 minutos
Direção: Eric Rohmer
Elenco: Lucy Russell, Jean-Claude Dreyfus, Alain Libolt, Charlotte Véry
Grace Elliot é uma aristocrata escocesa amante dos ideais absolutistas que vive em Paris em plena Revolução Francesa. A jovem, apesar das divergências políticas, nutre uma profunda amizade pelo Duque de Orléans, primo do rei Luís XVI e grande defensor das ideias democráticas.
Com o passar dos anos, a situação de Grace fica cada vez mais difícil, chegando ao ponto de se tornar inviável para jovem permanecer na capital francesa. Mudando-se para o campo, ela acredita que a revolução apenas serviu para mostrar a face bárbara e o egoísmo que o ser humano possui em sua essência, concordando, desta forma, com as ideias propostas pelo filósofo contratualista Thomas Hobbes que ao afirmar que “o homem é o lobo do homem” confirma a necessidade de um soberano absoluto para a manutenção da ordem.
Por outro lado, o Duque de Orléans se envolve ativamente com os acontecimentos da Revolução, afirmando que seu primo traiu o povo francês ao deixá-lo à mercê da fome e da pobreza. Mas, com o passar dos anos, o duque passa a temer tanto por sua vida quanto pela a de Grace, pois compreende que a luta, que começou com os ideais de emancipação do povo francês, terminou apenas colocando outra classe no poder: a burguesia. E esta estava disposta a tudo para não perder os privilégios que acabara de conquistar.
Apresentando este embate político-filosófico como um dos pilares em que o filme se sustenta, o diretor ainda busca prender a atenção do público com uma elegante arte visual que trás ao espectador a sensação de estar presenciando uma pintura ganhar vida.
Desta forma, ao retratar a vida de Grace em meio a um dos acontecimentos mais importantes da história da humanidade e ao demonstrar a relação existente entre a vida pública e privada, o diretor Eric Rohmer mostra que uma história, ou um momento histórico, pode e deve ser recontado, desde que, quem a conte se apresente disposto a fazer isso de uma forma inovadora, buscando sempre despertar a curiosidade e o senso crítico do público.
Miguel Lopes da Silva Filho
NÃO RECOMENDADO PARA MENORES DE 14 ANOS
Tema: Revolução
Contém: Violência, exposição de cadáver
18 – TRÊS MUNDOS
Trois Mondes, França, 2012, Drama, 101 minutos
Direção: Catherine Corsini
Elenco: Raphaël Personnaz, Clotilde Hesme, Arta Dobroshi, Reda Kateb
Três Mundos apresenta um mesmo evento através de três pontos de vista diferentes, o acontecimento em questão é o atropelamento de Adrian, um moldávio que vivia e trabalhava ilegalmente em Paris.
O primeiro mundo com o qual o espectador observa acidente é o de Al, um rapaz que se esforçou muito para chegar aonde chegou. Vindo de uma família humilde, ele acaba por se tornar dono de parte da concessionária de veículos onde trabalhava ao decidir se casar com a filha de seu antigo chefe. Al é o jovem que, incentivado pelos seus amigos, não presta socorro após atropelar Adrian.
O segundo mundo é protagonizado por Juliette uma estudante de medicina que divide o apartamento na capital francesa com sua colega de faculdade e possui um relacionamento complicado com seu namorado Frédéric do qual está grávida de três meses. Juliette é a jovem que assiste ao acidente de sua varanda e corre para ajudar Adrian.
O terceiro mundo é composto pelos familiares de Adrian, imigrantes da Moldávia para os quais o governo francês ainda não concedeu o visto apesar de estarem há anos no país, o que os obriga a aceitarem trabalhos clandestinos mal remunerados.
É a partir destas três perspectivas e de como elas se relacionam que o filme se desenrola e busca discutir temas sociais e filosóficos importantes, como a questão dos imigrantes ilegais na França e como o governo busca contornar esta situação, a questão da morte e de como o ser humano a encara tanto pessoalmente quanto filosoficamente. Neste ponto, o próprio filme faz menção ao filósofo alemão Martin Heidegger que, em seus trabalhos, afirma que ao encarar a morte o ser humano abre a possibilidade para uma vida autêntica, já que esta se apresenta como princípio de individualização do ser humano.
Baseado na experiência própria da diretora Catherine Corsini que aos doze anos foi atropelada por um veículo que fugiu sem prestar socorro, Três Mundos foi indicado para melhor filme na amostra paralela do Festival de Cannes de 2012.
Miguel Lopes da Silva Filho
NÃO RECOMENDADO PARA MENORES DE 14 ANOS
Tema: Acidente
Contém: Conteúdo sexual, drogas lícitas, violência
25 – DOIS DESTINOS
Cronaca Familiare, França/Itália, 1962, Drama, 115 minutos
Direção: Valerio Zurlini
Elenco: Marcello Mastroianni, Jacques Perrin, Sylvie, Salvo Randone
O filme se inicia com uma ligação para o jornalista e escritor Enrico, que é informado da morte de Lorenzo, seu irmão mais novo. Abatido, ele retorna a casa e passa a relembrar o passado e a relação que mantinha com o irmão.
O espectador ao poucos fica a par da situação em que os irmãos se encontravam. Separados na infância, Enrico foi criado por sua família e nunca teve acesso a uma boa educação. Já o pequeno Lorenzo foi educado pelo empregado de um importante barão o qual o auxiliou em seus estudos e permitiu que vivesse uma infância e juventude cercada de luxos. Devido às diferenças, os garotos se afastaram e passaram anos sem se ver, ao ponto de Enrico afirmar para si mesmo que perdera o irmão e a mãe no parto. Mas, graças a uma série de acontecimentos alheios a vontade de ambos, eles se reencontram e precisam apoiar um ao outro para enfrentar as adversidades que a vida colocou em seus caminhos.
A mudança de atitude entre eles é notável e emocionante. Como estranhos, com apenas o laço sanguíneo que os une, eles começam a desenvolver um grande afeto um pelo outro, um afeto que compensará todos os anos em que não estiveram juntos.
Com Dois Destinos, o diretor Valerio Zurlini não busca mostrar que “o sangue fala mais alto” como alguns podem pensar, mas sim que o amor e o afeto são construídos a partir do convívio e da empatia, quando o ser humano se abre para com o próximo de forma verdadeira, é capaz de criar laços mais fortes que o sangue.
O diretor ousa ainda em fazer uma pequena e interessante análise sobre a vida ao colocar dois homens solitários para enfrentarem o ato mais solitário da vida humana: a morte. Esta foi a receita encontrada para criar um filme premiado com o Leão de San Marcos (Leão de Ouro) no festival de Veneza de 1962.
Miguel Lopes da Silva Filho
NÃO RECOMENDADO PARA MENORES DE 14 ANOS
Tema: Relações familiares
Contém: Morte
O CDCC fica na Rua nove de julho, 1227, Centro.
Mais informações:
Tel.: (16) 3373-9772