Nem a forte chuva durante a manifestação da CUT, em São Paulo, na sexta-feira (13/03), atrapalhou a luta da classe trabalhadora. A Subsede da CUT de São Carlos organizou 3 ônibus que saíram de São Carlos e Araraquara com companheiros de movimentos sociais e sindicais.
Os Metalúrgicos de São Carlos juntamente com as Promotoras Legais Populares, os Militantes petistas de São Carlos e Araraquara, o DCE UFSCar, o Levante Popular, o Sindicato dos Bancários de Araraquara e os Metalúrgicos de Limeira, participam do ato na Avenida Paulista, em São Paulo, para pressionar o governo a colocar na agenda política a pauta da classe trabalhadora e cobrar avanços. A mobilização teve início às 16h, em frente ao prédio da Petrobras -- altura do nº 901 --, e seguiram em caminhada até Praça da República, no centro da capital.
Para a organização do ato eram 100 mil pessoas. Segundo a PM, apenas 12 mil. Certo mesmo é que entre o início e o fim da manifestação, a marcha demorava exatas 1h20 para passar e trazer bandeiras de várias cores: vermelhas, brancas, negras, multicoloridas do movimento LGBT e, claro, a bandeira do Brasil.
O presidente nacional da CUT, Vagner Freitas, defendeu a revisão da política econômica em vigor e informou que a Central apresentará uma proposta alternativa que não onere os trabalhadores e trabalhadoras brasileiras.
“Ajuste fiscal e não investimento no mercado interno. Outros países do mundo adotaram essa receita e os trabalhadores perderam seus empregos. Nós temos uma classe trabalhadora organizada e classe empresarial bastante forte, se nós tivermos condição de fazer uma política econômica voltada para o crescimento, será bom para todo mundo”, destaca Vagner. “E essa turma que está aqui apresentará uma proposta de política econômica para o Brasil que leve em consideração o fortalecimento e o crescimento do Estado”, destaca.
Vagner defendeu fortemente os quatro eixos da manifestação dos movimentos sociais – Democracia, Direitos, Reforma Política e Petrobrás - e frisou que luta pela Democracia é também uma luta contra intolerância. Na manifestação desta sexta, era possível ver a pluralidade de grupos sociais presentes, que incluía mulheres, homens, crianças, indígenas, negros, brancos, população LGBT, camponeses e movimentos urbanos, entre outros.
Defender a Petrobrás é defender o Brasil
João Antonio de Moraes, diretor da Federação Única dos Petroleiros (FUP) lembra que aPetrobrás é fundamental para a economia brasileira e que os casos de corrupção não podem ser distorcidos e usados como forma de inviabilizar a estatal e entregá-la para multinacionais.
“São cerca de 1,5 milhão de empregos que giram em torno da indústria de petróleo. Entregar o pré-sal é um crime. O povo não permitirá que isso aconteça. Para nós, está muito claro que, quem cometeu coisa errada, se comprovado, seja punido. Mas paralisar as empresas, principalmente a Petrobrás, é um crime contra o povo brasileiro. E não permitiremos”, ressalta o direitor.
O discurso de contraposição às tentativas de enfraquecer a Petrobrás também é forte na fala de Cibele Vieira, coordenadora geral do Sindipetro Unificado SP. “Querem colocar o ônus que a burguesia tá criando para a classe trabalhadora e não permitiremos isso”, afirma.
“Este não é o único ato. Querem entregar o que restou da Petrobrás para a iniciativa privada, principalmente internacional.” , afirma Adi dos Santos Lima, presidente da CUT-SP. “Esse ato é para dizer aos que querem vender a Petrobrás que devem desistir”.
Funcionalismo público
Mais de 10 mil professores ligados ao Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), aprovaram em assembleia uma greve por tempo indeterminado, a começar nesta segunda-feira (16), com pautas como valorização salarial, contratação de concursados e plano de cargos e salários. A presidenta da Apeoesp, Maria Izabel Azevedo Noronha, a Bebel, lembrou que o governador de São Paulo , Geraldo Alckmin, é inimigo da Educação.
“O governo estadual já fechou mais de 3 mil salas de aula nos últimos dois anos. Se inviabilizarem a Petrobrás, a situação só piora. Os professores e professoras precisam ter claro que defender a Petrobrás é uma luta por Democracia e deve ser encampada por toda a CUT”, destacou.
Reunidos em frente à Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo, centenas de trabalhadores e trabalhadoras da saúde também aprovaram por unanimidade a pauta da Campanha Salarial 2O15. Os trabalhadores vão protocolar a pauta de reivindicações e reivindicar um espaço de negociação. Caso o governo não abra negociações, a categoria vai discutir a possibilidade de uma greve.
O governador Geraldo Alckmin, do PSDB (que comanda o Estado há mais de 2O anos) anunciou que não haverá aumento para o funcionalismo este ano. Enquanto isso, aprova um decreto que determina aumento real de 18% para todo seu secretariado.
Após a assembleia geral, que terminou por volta das 14h45, os trabalhadores caminharam em direção à Avenida Paulista e se juntaram ao restante da militância que participava do Dia Nacional de Luta.
Para a CUT, a mobilização cumpriu o papel. Por um lado, deixou claro à presidenta Dilma que governar ouvindo o povo, e não apenas o Congresso, não é opcional. Por outro, que a democracia é um valor inestimável para os movimentos sociais.
“Os movimentos e, em especial, a CUT, demonstraram a capacidade de mobilização, de intervenção na conjuntura e de trazer pessoas para defender os seus direitos. A Central deu o recado de que agora precisa acabar o processo de terceiro turno para que a presidenta Dilma possa governar. Mas que governe ouvindo o povo, colocando em prática a agenda que ganhou as eleições. Temos que ter a valorização da negociação e do diálogo no país e o entendimento que o desenvolvimento só virá com melhores condições de vida e emprego para o trabalhador”, afirmou o presidente nacional da CUT, Vagner Freitas.
Nas ruas desde a ditadura – Para o Secretário-Geral da Central, Sérgio Nobre, os trabalhadores não permitirão que a luta de milhares pela democratização do país escorra pelo ralo da intolerância.
“Se esse país conquistou a democracia foi por conta da classe trabalhadora. Muitas pessoas perderam a vida por isso e sob hipótese alguma a classe trabalhadora vai permitir retrocesso. O recado está dado e agora é continuar as lutas por nossos direitos no Congresso Nacional.”
Para o presidente da Confederação Sindical Internacional (CSI), João Felício, a reação que se manifesta em forma de tentativa de golpe retrata também interesses econômicos internacionais e unificados. A saída, define, deve ser sempre à esquerda.
“Todas as vezes em que se elege um governo do campo democrático e popular, os reacionários e golpistas se unificam para tentar derrubar. Já tentaram fazer isso na Venezuela, no Chile e estão tentando fazer isso na Argentina. Mas aqui não permitiremos. Porém, o governo precisa mudar alguns ministros neoliberais que nunca tiveram compromisso com a classe trabalhadora e derrubar as Medidas Provisórias (664 e 665) é um bom começo. Para o ajuste fiscal é preciso taxar as grandes fortunas”, propõe.
Petrobrás e os ataques – Segundo o secretário de Relações Internacionais da FUP (Federação Única dos Petroleiros), João Moraes, a hora é de mostrar quem realmente é a Petrobrás.
Para ele, a melhor forma de reverter a imagem negativa da empresa é o povo ir às ruas como fez em defesa da criação da estatal.
“Em 2014, a Petrobrás se tornou a maior produtora de petróleo com capital aberto do mundo, recebeu pela terceira vez o prêmio Nobel da indústria do petróleo, bateu recordes no refino, aumentou em 20% a produção de etanol e, em 8 anos, começou a produzir o pré-sal, enquanto outras petroleiras levam 15 anos. Não fosse o bloqueio dos grandes meios de comunicação, hoje o povo brasileiro teria orgulho da Petrobrás e cobraria, sim, a solução dos problemas, mas teria noção de que são muito pequenos diante da grandeza da Petrobrás”, definiu.
Juventude nas ruas...
Presidenta da UNE (União Nacional dos Estudantes), Vitória Barros, a Vic, avalia que a mobilização popular provou novamente a disposição para defender a democracia brasileira, a educação, a Petrobras e a reforma política. E é só o começo.
“Em abril, vamos fazer uma jornada de lutas em defesa de nossas pautas, como a desmilitarização da PM, o fim do extermínio da juventude negra, a reforma agrária e a reforma política para acabar com o financiamento empresarial para campanhas. Estamos nas ruas e estamos vencendo", avaliou.
Militante do Levante Popular da Juventude, Pedro Freitas, lembrou que o crescimento na participação da juventude nas ruas, desde junho de 2013, que culminou na revogação do reajuste da tarifa de transporte público em diferentes capitais do Brasil.
“Queremos uma reforma do sistema político através de uma constituinte exclusiva e soberana, que permitirá romper com o cerco político que as forças da direita estão fazendo ao governo federal com o apoio da grande mídia. E não queremos ajustes fiscais que penalizam os jovens, como faz as Medidas Provisórias (664 e 665), que dificultam o acesso ao seguro-desemprego num cenário em que a rotatividade atinge principalmente a nossa geração”.
Presidenta da UEE (União Estadual dos Estudantes de São Paulo), Carina Vitral, a mobilização é essencial para impedir corte em programas voltados à educação como o Prouni (Programa Universidade para Todos), o Fies (Fundo de Financiamento Estudantil) e as cotas nas universidades federais.
“Os royalties do petróleo devem ser destinados para a educação e os 10% do PIB (Produto Interno Bruto) precisam ser cumpridos. Por isso, nenhum corte e nenhum direito a menos”, cobrou.
...e o campo também
Dirigente do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), João Paulo Rodrigues destaca que apesar de o governo manter uma dívida com a reforma agrária, o caminho não é o golpismo.
“Estamos nas ruas há 30 anos e não há 30 dias e vamos continuar defendo os interesses do povo brasileiro nas ruas e ocupações de terra e não aceitaremos retrocesso na democracia e nos direitos sociais.”
Para além da luta em si, a coordenadora do MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens) Liciane Andrioli, ressaltou o aspecto formador de uma ação gigantesca.
"Vivemos num contexto de acirramento da direita e de uma mídia manipuladora e é preciso sair às ruas pra discutir com a sociedade as nossas bandeiras de luta. Nosso movimento de hoje é diferente do que será o outro daqui dois dias, que representa uma burguesia raivosa que quer vender a Petrobras para os norte- americanos e quer retrocesso de direitos da classe trabalhadora e desmoralizar os movimentos".
A CUT não participou dos atos de domingo (15/03) e as entidades que organizaram o ato de sexta-feira, apresentarão uma plataforma política de reivindicações para a presidenta Dilma Rousseff.
Com informações CUT/SP