Ao integrar o NANoREG, o Consórcio Europeu para regulação em nanomateriais, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) conquista duas importantes participações: dá o primeiro passo rumo ao emprego de materiais de referência e de procedimentos padronizados internacionalmente e já passa a contribuir com a tarefa de caracterizar e avaliar impactos de materiais, inclusive de fontes naturais, que possam compor o desenvolvimento de pesquisas científicas à base de nanotecnologia.
A inserção da Embrapa no NANoREG, assim como de outros institutos do país, está sendo possível graças a um acordo de cooperação internacional, com a participação do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), formalizado durante reunião geral do órgão, realizada em maio, em Portugal.
O pesquisador da Embrapa Instrumentação (São Carlos – SP), Caue Ribeiro, líder da Rede de Nanotecnologia aplicada ao Agronegócio (AgroNano), disse que a participação brasileira em um organismo internacional como esse representa um avanço enorme para as pesquisas e uma luz na direção da regulação de materiais empregados em pesquisas à base de nanotecnologia, trazendo confiabilidade e o exercício das boas práticas laboratoriais.
Participação brasileira
Além da Embrapa, outras sete instituições brasileiras darão contribuições para cinco dos sete pacotes de trabalhos propostos pelo NANoREG. O Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) será o responsável pela coordenação científica do NANoREG no Brasil, enquanto a gestão no âmbito do Governo Federal ficará com a Coordenação-Geral de Micro e Nanotecnologias (CGNT) do MCTI.
As demais instituições são o Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (Cetene); Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); Universidade de São Paulo (USP); Universidade Federal do Rio Grande (FURG); Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
NANoREG
É um projeto de pesquisa para regulamentação em nanotecnologia proposto pela União Europeia. É coordenado pelo Ministério de Infraestrutura e Meio Ambiente da Holanda e envolve 76 laboratórios de 22 países europeus, além de Austrália, Canadá, Coreia do Sul, Estados Unidos, Japão e Brasil.
Os três principais objetivos do NANoREG são:
disponibilizar aos legisladores um conjunto de ferramentas de avaliação de risco e instrumentos para tomada de decisão a curto e médio prazo, através da análise de dados e realização de avaliação de risco, incluindo a exposição, monitorização e controle, para um número selecionado de nanomateriais já utilizados em produtos; desenvolver a longo prazo, novas estratégias de ensaio, adaptados a um elevado número de nanomateriais em que muitos fatores podem afetar o seu impacto ambiental e de saúde; estabelecer uma estreita colaboração entre governos e indústria no que diz respeito ao conhecimento necessário para a gestão adequada dos riscos, e criar a base para abordagens comuns, conjuntos de dados mutuamente aceitáveis e práticas de gestão de risco.
Para estruturar a pesquisa, o projeto está dividido em sete pacotes que compreendem respostas científicas para questões regulatórias; síntese, fornecimento e caracterização; exposição através da análise do ciclo de vida; testes de biocinética e toxicidade in vivo; riscos regulatórios, avaliação e teste; acompanhamento do ritmo da inovação; e ligações, disseminação, exploração e comunicação.
Rede AgroNano
Na avaliação do chefe-geral da Embrapa Instrumentação, Luiz Henrique Capparelli Mattoso, a Embrapa, assim como as demais instituições brasileiras parceiras do NANoREG, já têm competência e equipes altamente qualificadas em nanotecnologia há duas décadas. A realização de projetos com a iniciativa privada e a infraestrutura laboratorial avançada demonstram que estamos aptos a dar contribuição importante no desenvolvimento de nanotecnologias que contribuam para o avanço do País nesta área.
A Rede de Nanotecnologia Aplicada ao Agronegócio (AgroNano), liderada pela Embrapa, agrega um grande número de competências – inclusive em áreas de aplicação direta no agronegócio (agrônomos, veterinários, cientistas de alimentos) – e gerou o primeiro grupo de usuários capacitados do Laboratório Nacional de Nanotecnologia aplicado ao Agronegócio (LNNA), sediado na Embrapa Instrumentação. Atualmente estão envolvidos na Rede 158 pesquisadores de 51 instituições, sendo 16 unidades da Embrapa e 35 grupos de pesquisas de centros acadêmicos de excelência no país.
Esses atributos levaram o LNNA a integrar o Sistema de Laboratórios em Nanotecnologias (SisNANO) do MCTI. Com isso, desde julho de 2013, o LNNA é um dos oito laboratórios estratégicos para o País.
Agora com a entrada no NANoREG, Caue Ribeiro explica que as pesquisas desenvolvidas no LNNA ganham outra dimensão, porque os elementos envolvidos na criação passam a ser referendados por uma instituição internacional.
No LNNA as pesquisas encontram-se em estágio avançado de desenvolvimento, como os processos de produção de nanofibras de celulose, material de alta performance, oriundo de fontes renováveis, extraído de fibras vegetais, incluindo os resíduos agrícolas.
Testes em laboratório comprovam a viabilidade do seu uso como material de reforço em diferentes polímeros, como os materiais de embalagem de alimentos. Resultados dessas pesquisas vêm demonstrando que esse material pode influenciar na próxima geração de embalagens inteligentes, inclusive viabilizando o uso de materiais totalmente biodegradáveis.
Importância da nano
A nanotecnologia surgiu em decorrência da combinação e evolução de diversos campos do conhecimento humano, incluindo a química, a ciência dos materiais, a biologia, a eletrônica, a computação e a física. Tal como já aconteceu com a eletricidade e os computadores, a nanotecnologia estará em breve presente em quase todas as facetas da vida diária, e por ser uma ciência integrada, oferece a oportunidade de interferir em diversos segmentos econômicos, diz Mattoso, lembrando que a agricultura não é uma exceção.
De acordo com o pesquisador, no Brasil, é na agricultura para a produção de alimentos, fibras e energia que a aplicação de nanotecnologia poderá trazer impactos sem precedentes. "Esses benefícios serão observados do ponto de vista econômico, social, ambiental, podendo ser refletido na qualidade de vida, incremento da produção de alimentos por área cultivada, melhoria da qualidade dos processos agroindustriais e o acesso a novos produtos por mais consumidores".
A Rede AgroNano tem direcionado seus projetos para diversos setores de atividade econômica, como Insumos, Produção Animal, Vegetal, Indústria de Alimentos, Indústria Química e de Materiais.
Alguns exemplos, dentre os resultados técnicos obtidos nos projetos de pesquisa (que ainda poderão ser transformados em produtos para o mercado) podem ser citados para ilustrar sua abrangência:
1. o avanço nas aplicações de sensores nanoestruturados, utilizados em aplicações diversas como, por exemplo, no controle da qualidade de água para consumo humano;
2. a aplicação de sistemas de controle de liberação para insumos agrícolas e veterinários, para evitar desperdícios e contaminação do meio ambiente;
3. nanocompósitos mostraram-se interessantes para o controle de liberação de herbicidas, enquanto nanoesferas de polímeros biodegradáveis foram eficientes para aumento da eficácia de antibióticos veterinários;
4. nanocápsulas se mostraram versáteis tanto para a entrega controlada de fertilizantes como para a encapsulação de vitaminas;
5. nanopartículas sintéticas usados para descontaminar, por exemplo, água com pesticidas através da degradação dos compostos.
Especificamente no mercado agro, análises internacionais demonstram preocupação específica com produtos de consumo direto, como alimentos com nanotecnologia ou embalagens inteligentes com nanopartículas.
Pouco se analisou ainda sobre o potencial de impacto na cadeia global de produção, ou seja, os ganhos na produção de alimentos pelo uso de novos fertilizantes e defensivos nanoestruturados, no controle da qualidade de produtos agrícolas por sensores, e mais recentemente, no ganho potencial de nanocápsulas para veiculação de vacinas animais, com interfaces na biotecnologia, como sistemas nanoestruturados para delivery de genes.
Esses últimos não indicam que o consumidor de produtos agropecuários terá contato com essas nanotecnologias, mas será beneficiado, seja na qualidade final, na diminuição de perdas e, finalmente, no balanço econômico global.
Joana Silva
Embrapa Instrumentação
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