O secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Carlos Nobre, abordou crises recentes por falta de água nas regiões Sudeste e Nordeste, durante palestra de abertura da 32ª Reunião Ordinária do Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), na terça-feira (16).
Na ocasião, o gestor também discutiu causas e impactos da seca e mencionou previsões meteorológicas para o país nos próximos meses.
A partir de dados do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e dos institutos nacionais de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e de Pesquisas Espaciais (Inpe), Nobre apresentou explicações possíveis para a estiagem de 2014 no Sudeste, como os "sistemas de bloqueio", massas de alta pressão atmosférica que, segundo ele, constituem a principal razão pela escassez de chuva na região.
"Bloqueios de cinco dias acontecem frequentemente e bloqueios de 20 dias já são um fenômeno muito raro, mas esse bloqueio [de dezembro a fevereiro] durou 48 dias", disse.
"Não há nenhum registro recente, nas últimas décadas, de um bloqueio que tenha durado tanto. Os veranicos, aqueles períodos secos no meio do verão, normalmente são causados por bloqueios de cinco a dez dias", completou.
Hipóteses
Apesar da descrição meteorológica, o secretário destacou não ter certeza sobre o motivo da duração do sistema de bloqueio em São Paulo.
"Tem a ver com mudança climática? A pergunta que todos fazem é: isso é resultado de aquecimento global? A resposta é: não sabemos dizer. Não é sim nem não. Porque para poder dizer isso nós precisaríamos realmente ter muito mais estudos ou modelos matemáticos", avisou.
"O que nós podemos afirmar é que o clima ficou mais variável em um planeta mais quente. Contem com isso."
Nobre recordou que o Cemaden instalou em abril 30 medidores de chuva na parte alta da bacia do Sistema Cantareira. "Os pluviômetros do estado de São Paulo se concentram nos reservatórios, mais na parte baixa", informou.
"Agora, ao todo, são 36 pluviômetros enviando dados em tempo real, além de equipamentos da ANA [Agência Nacional de Águas]. Isso permite realmente avançar sobre o que conhecemos do comportamento hidrológico do sistema. A capacidade de monitorar aumentou, mas é uma coisa recente, obviamente."
Próximos meses
De acordo com o secretário, o fenômeno climático El Niño tem boas chances de gerar impactos "fracos ou moderados" no país de janeiro a março de 2015.
"As consequências mais notáveis costumam ser uma indução à seca durante a estação chuvosa do Norte e do Nordeste, uma tendência de chuvas acima da média no Sudeste da América do Sul e verões muito quentes", enumerou.
Região Nordeste
O secretário expressou preocupação com o Nordeste, que enfrentou secas severas em 2012 e 2013 e ainda mantém baixos níveis de armazenamento hídrico. "Se El Niño se acentuar, nós vamos ter que olhar a região com muita atenção", alertou.
"Norte e Nordeste ficam sob controle do [Oceano] Pacífico, por meio do fenômeno, mas dependem, principalmente, do Atlântico.
Se o Atlântico estiver favorável, com águas quentes próximas à costa e frias ao norte da linha do equador, será um ano em que normalmente choverá bem."
Perspectivas em São Paulo
Para São Paulo, mesmo com o fenômeno, os dados citados por Nobre anteveem pouca chuva, embora ele tenha enfatizado dificuldades para previsões de longo prazo.
"O Sudeste funciona, na questão da previsibilidade, como qualquer outra região do planeta. O que é atípico é você ter previsibilidade, como ocorre no Norte e no Nordeste, ou, em anos de El Niño, no sul do Brasil, porque a atmosfera é muito variável", esclareceu.
Sobre o Conselho
Criado em 1997, o CNRH desenvolve regras de mediação entre os diversos usuários de água no Brasil e estabelece diretrizes complementares para implementar a Política Nacional de Recursos Hídricos.
O colegiado é presidido pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) e tem como órgão executivo a Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano da pasta.
Fonte:
Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação