Livro aborda relações entre mulheres em penitenciárias
UFSCar 5 de Dezembro de 2018
A EdUFSCar está lançando o livro "Sobre casos e casamentos: afetos e amores através de penitenciárias femininas em São Paulo e Barcelona", de autoria de Natália Corazza Padovani. A publicação conta com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
A obra encerra um percurso de mais de 10 anos de estudos na área. A primeira vez que Padovani entrou em uma penitenciária feminina foi em 2003, para a realização de uma pesquisa de iniciação científica sobre oficinas de trabalho na Penitenciária Feminina de Tatuapé, agora desativada. No mestrado, seguiu com projeto na Penitenciária Feminina da Capital e de Santana. E o livro é resultado da tese de doutorado da autora defendida no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), sob orientação da professora Adriana Gracia Piscitelli.
O livro trata dos vínculos de afeto, assim como das relações sexuais e amorosas vivenciadas a partir das experiências prisionais. Os argumentos desenvolvidos ponderam acerca de como essas vinculações aparecem, no campo etnográfico das penitenciárias femininas, como espaços privilegiados de agência e regulação e, além disso, de como essas relações mudaram as trajetórias das mulheres (interlocutoras da pesquisa) dentro e fora da prisão.
"Desenvolvo estes argumentos levando em conta 'experiências de conjugalidade' e 'relações sexuais e amorosas', mas também outras redes de afeto que foram acrescidas à análise ao longo do trabalho etnográfico. Afinal, as 'irmãs de caminhada', as amizades mantidas ao longo da pena de prisão, também enredavam narrativas e trajetórias das personagens", escreveu a pesquisadora na introdução da obra.
De acordo com a autora, com o desenvolvimento do estudo, tornou-se imperativo problematizar o trânsito de brasileiras e espanholas, considerando o mercado transnacional de drogas e levando em conta dois sentidos dos trajetos: Espanha-Brasil/Brasil-Espanha. Parte do mapa do mercado transnacional de drogas, assim como sua vinculação a relacionamentos amorosos e matrimoniais, traçou os rumos da pesquisa entre prisões de São Paulo e de Barcelona. Foi a partir desse enredamento etnográfico que a pesquisa, antes circunscrita às penitenciária femininas da cidade de São Paulo, foi ampliada para outros endereços em que transitavam as narrativas. Penitenciárias que antes não faziam parte do cenário descritivo do estudo foram trazidas para o campo semântico da etnografia, escrita a partir dos nós que tencionam afetos e encarceramentos com fluxos, por vezes, transnacionais.
O livro está organizado em três partes. A primeira ilustra a incursão etnográfica da autora por meio da descrição de como as relações são arranjadas no campo das penitenciárias femininas. A segunda parte analisa as tramas tecidas entre regulação e agenciamento das relações, por meio de cartas e documentos tomados como objetos para o exame das mediações. Já os capítulos que compõem a terceira parte falam de como os casos e casamentos mudaram as trajetórias de vida das pessoas que, ao serem presas, tramaram redes de afetos e produziram familiaridade.
Mais informações sobre o livro podem ser obtidas no site da EdUFSCar.