O despejo de esgoto em rios traz diversos malefícios e ainda contribui para o crescimento de uma espécie de algas que diminui a diversidade de animais, plantas e outros seres vivos.
Essa é a conclusão de um estudo feito pelo Departamento de Botânica da universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
As algas azuis, ou cianobactérias, se aproveitam do excesso de nutrientes vindos com o esgoto para se multiplicar. O problema é que essa espécie de alga é tóxica e libera materiais orgânicos prejudiciais à saúde na água.
Os estudos foram feitos no reservatório de Barra Bonita, onde há o encontro dos rios Tietê e Piracicaba. O coordenador da pesquisa, Armando Augusto Henriques Vieira, conta que os nutrientes vindos do esgoto despejado nesses rios acabam se concentrando em Barra Bonita. “O reservatório funciona como um local de purificação da água, o problema é que o uso dela pela população do entorno fica prejudicada”, disse. Segundo o professor, quando o Tietê chega ao rio Paraná a água já está bem mais limpa. “Isso graças às diversas represas ao longo de seu percurso”, explicou.
As algas azuis são uma das primeiras bactérias do planeta a fazer fotossíntese em ambientes oxigenados. Durante esse processo, as cianobactérias liberam toxinas, o que as tornam imprópria para a alimentação de outras espécies. “As algas são o início da cadeia alimentar. Se elas não podem ser consumidas, prejudicam todo o sistema”, disse Vieira.
Apesar disso, a matéria orgânica liberada pelas algas azuis serve de alimento para outras bactérias e até outros organismos eucarióticos. “Estamos tentando entender essa relação. Não há estudos sobre o destino dessa matéria orgânica, suas transformações em novos compostos e as relações dela com o meio ambiente e com outras espécies. É algo inédito”, contou a pesquisadora Ana Teresa Lombardi.
Para a pesquisadora, as águas de represas, como a de Barra Bonita, poderiam ser melhor utilizadas caso não estivessem sobrecarregadas de algas azuis. “O município poderia usar em atividades de irrigação, para recreação e até consumo. Mas, da maneira como está hoje, a água pode contaminar a população”, afirmou Ana Teresa.
A FRASE
“Algas são o início da cadeia. Se elas não são consumidas, prejudicam todo o sistema.”
Armando Augusto Henriques Vieira, professor da UFSCar
Uso de inseticidas é ilegal
Um dos únicos métodos conhecidos para o controle das algas azuis é ilegal. Isso porque ao matar as cianobactérias com o uso de inseticidas, elas liberam mais toxinas na água. “A maneira mais correta é parar de jogar esgoto na água. Mas essa prática é tão comum no País que reverter esse processo é caro e não interessa para muita gente”, afirmou o professor do Departamento de Botânica da Universidade Federal de São Carlos, Armando Augusto Henriques Vieira. Segundo ele, esse modelo de reservatório com excesso de algas azuis pode ser aplicado na maioria das represas do País e do mundo. “Nosso histórico é de pouco cuidado com as águas. Percebemos, ao longo de oito anos, que o problema fica pior com o passar do tempo. As algas azuis dominam esse território e, ao que parece, vão acabar com a diversidade dessas regiões, já que não há tratamento”, lamentou Vieira. (RV)
RENATO VITAL
Gazeta de Ribeirão
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