Uma pesquisa de mestrado da UFSCar aponta para a importância de oferecer orientações quanto à prevenção do uso de álcool e outras drogas durante a gestação já nas primeiras consultas de pré-natal. O estudo fez análises com mais de cem gestantes e verificou a eficácia de intervenções breves com e sem monitoramento.
A pesquisa "Avaliação do efeito do monitoramento de intervenções breves para uso de álcool e tabaco em gestantes" é desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PPGEnf) da UFSCar, pela mestranda Adaene Moura, sob orientação de Angélica Gonçalves, docente do Departamento de Enfermagem (DEnf) da Instituição. O estudo avaliou 112 gestantes de São Carlos e Ibaté, no interior paulista, atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Todas as participantes passaram por um pré-teste e checagem de uso de álcool e cigarro. Além disso, receberam informações quanto aos malefícios do uso dessas substâncias para o desenvolvimento dos bebês.
Do total de participantes, 35 alegaram usar álcool e/ou tabaco durante a gestação (desse número, 31 delas usavam apenas o álcool). Para a pesquisa, as voluntárias foram divididas da seguinte forma: Grupo Controle (GC) com 17 gestantes, e Grupo Experimental (GE) com 18 gestantes. Com o GC, a pesquisadora realizou em domicílio intervenções breves sobre o uso das substâncias tóxicas e elaborou um plano de metas individual visando diminuir o consumo do álcool ou cigarro no período da gestação.
Já com o Grupo Experimental, além das mesmas ações realizadas no GC, a pesquisadora também fez um monitoramento durante duas semanas, por telefone, avaliando o grau de motivação, o cumprimento do plano de metas e possíveis dificuldades enfrentadas pelas gestantes. As análises preliminares apontam que houve redução do consumo de tabaco pós-intervenção e, entre as participantes que usavam álcool, somente uma não parou com a ingestão, demonstrando efetividade das intervenções.
De acordo com Adaene Moura, a maioria das 31 gestantes que usavam álcool parou de consumi-lo após o contato inicial com a pesquisadora e com as informações que ela apresentou. Isso reforça a importância das orientações sobre o consumo dessas substâncias no pré-natal. A mestranda acredita que as gestantes mudaram seu comportamento porque se sensibilizaram com os esclarecimentos sobre os malefícios do consumo de drogas (mesmo as lícitas) na gravidez.
No geral, Moura avalia que as orientações básicas quanto ao uso do cigarro e álcool na primeira consulta de pré-natal são fundamentais, principalmente em casos de mulheres que tenham maior vulnerabilidade para esse consumo. "Os profissionais que têm contato com essas gestantes devem, já no começo da gravidez, oferecer orientações claras, principalmente porque os primeiros três meses da gravidez são mais delicados e o consumo de drogas pode prejudicar o desenvolvimento cerebral dos bebês, causando danos irreversíveis", avalia a pesquisadora do PPGEnf da UFSCar, destacando que esse acompanhamento deve ser multiprofissional.
Além disso, ela aponta que os profissionais de Saúde que atendem essas pacientes devem passar por treinamentos para implementar essas intervenções com as gestantes, elaborando planos de metas que vão ajudá-las a reduzir e interromper o consumo do álcool e do cigarro, reforçando, inclusive, a responsabilidade da paciente sobre as suas metas. "No caso de mulheres grávidas que demonstram maior vulnerabilidade, é indicado que os profissionais de Saúde realizem um acompanhamento mais próximo, até por telefone, já que nem todos conseguem a disponibilidade para as visitas domiciliares frequentes", defende.
Malefícios do álcool e do tabaco na gestação:
O uso de tabaco, álcool e outras drogas (líticas e ilícitas) deve ser desestimulado nas gestantes, pois podem ocasionar diversos problemas à gestante e ao bebê. Entre eles, estão o crescimento fetal restrito, aborto, parto prematuro, deficiências cognitivas no feto, além da Síndrome Alcoólica Fetal (SAF), considerada a mais grave repercussão negativa para o feto. A SAF se caracteriza por danos ao sistema nervoso central que causam anomalias neurológicas, craniofaciais e deficiência no crescimento pré e pós-natal, além de disfunções comportamentais e malformações associadas. Para a gestante, o consumo de álcool pode levar a doenças cardiovasculares, câncer, depressão e distúrbios neurológicos, além de ganho de peso gestacional insuficiente, menor número de consultas de pré-natal e aumento do risco de consumo de outras drogas.
Moura reforça que nenhuma quantidade de álcool e tabaco é segura durante a gravidez e faz um alerta sobre as bebidas comercializadas com rótulos que indicam "sem álcool": "É preciso que as gestantes fiquem atentas às cervejas sem álcool, pois algumas delas têm pequenas porcentagens de álcool na composição - cerca de 0,5% - e isso já pode ser prejudicial. As gestantes devem avaliar o rótulo para se certificarem que não há nenhuma quantidade de álcool nas bebidas", orienta.
A pesquisadora da UFSCar finalizará o mestrado em breve e pretende continuar o estudo da mesma temática no doutorado, ampliando o monitoramento das participantes até o final da gestação, para acompanhar os partos e recém-nascidos. Projeto aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFSCar (CAAE: 76495317.8.0000.5504).