Com sessões aos sábados, às 20 horas, o Cineclube do Centro de Divulgação Científica e Cultural (CDCC) da USP em São Carlos promoverá no mês de outubro a seguinte programação:
2 - ARCA RUSSA
Russkij Kovcheg, Rússia, 2002, Drama, 97 minutos
Direção: Aleksandr Sokurov
Elenco: Sergei Dontsov, Mariya Kuznetsova, Leonid Mozgovoy, David Giorgobiani, Aleksandr Chaban
Arca Russa é um trabalho de grande relevância na história do cinema. O longa-metragem nem precisaria ser bom para conseguir marcar esse ponto. Rodado de uma vez em um único plano-sequência, isto é, em seus noventa e sete minutos não há cortes. Isto é a inovação tecnológica auxiliando a arte cinematográfica. Inovador, pois Sokurov trabalhou com mais de dois mil atores e figurantes e ainda teve a árdua tarefa de gravar tudo no Museu Hermitage, em São Petersburgo, um lugar de aspectos geográficos trabalhados: trinta e cinco salas, pátios, corredores apertados e escadas em espirais.
É narrado o tour de dois personagens pelas salas do Museu. Entretanto, não é um passeio comum, os milhares de figurantes caracterizados com os figurinos pomposos da época da monarquia russa encenam momentos de trezentos anos de história russa. Alguns czares, como Pedro o Grande, Catarina a Grande, Catarina II e Nicolau, aparecem na trama.
Um dos trechos que merece destaque é o que tem um carpinteiro trabalhando em uma sala na construção de caixões, uma referência ao massacre ocorrido durante a Revolução Bolchevique, e o final do Grande Baile dos Romanov, antes da revolução de 1917, onde os aristocratas saem do pomposo prédio em silêncio até chegarem a uma paisagem sombria e pouco promissora, causando certa nostalgia nos expectadores. Quando o personagem se recusa a sair do baile com os outros, fica reforçado este clima nostálgico, pois o que está por vir é o fim de uma era.
É interessante ressaltar a monumental coreografia do filme, que foi montada em nada menos do que sete meses e que foi gravada em apenas um dia: vinte e três de dezembro de dois mil e um. Aliás, o projeto tinha que ser rodado inteiramente nesse dia, pois a administração do Museu Hermitage só concordou com o projeto, porque não teria que fechar suas portas por mais tempo.
Fabrício Borges Moreira
LIVRE PARA TODOS OS PÚBLICOS
Tema: História da Rússia
9 - A FORTALEZA ESCONDIDA
Kakushi toride no san akunin, Japão, 1958, Drama, 139 minutos
Direção: Akira Kurosawa
Elenco: Takashi Shimura, Toshirô Mifune, Misa Uehara, Eiko Miyoshi, Susumu Fujita, Minoru Chiaki, Kamatari Fujiwara, Toshiko Higuchi, Koji Mitsui, Shiten Ohashi
Dois camponeses, ao voltar da guerra, se deparam com a possibilidade de resgatar um tesouro do clã Akizuki. São convencidos pelo general Rakurota a transportar o tesouro por território inimigo com a promessa de divisão do ouro. Porém, o general, na verdade, tinha a intenção de escoltar a princesa do clã Akizuki para casa sem que os camponeses soubessem de quem se tratava, pois recompensas foram oferecidas pela princesa ou quaisquer informações dela.
Os camponeses, figuras essencialmente humanas, tinham um misto de esperteza e ingenuidade e também movidos quase sempre pela ganância e covardia. São personagens cômicos que trazem humor ao filme. Entretanto, deve-se notar suas trágicas histórias de vida: participantes da guerra, são presos, vivem na miséria e quando têm a possibilidade de ficarem ricos eles se agarram a ela arriscando suas vidas por isso.
O general Makabe Rakurota é a figura nobre e heróica do filme. Responsável por boas cenas de ação, tais como a perseguição a dois soldados a cavalo e logo em seguida, duela com um adversário inimigo. É expoente, também, de honra e fidelidade.
A princesa, que foi obrigada a passar quase todo o tempo da ação como expectadora, revela que a experiência vivida na fuga foi fundamental para ela, ao contrário da vida fútil de palácio. É dona de uma compaixão comovente.
É importante também ressaltar o distanciamento de classes trazido em vários momentos do filme, visto na forma autoritária e superior que a princesa e o general encaram os camponeses.
A Fortaleza Escondida inspirou o filme Star Wars de George Lucas, mostrando a primorosa combinação do humor, cenas de ação e compaixão humana em escala épica.
Fabrício Borges Moreira
NÃO RECOMENDADO PARA MENORES DE 14 ANOS
Tema: Guerra Feudal
Contém: Violência moderada, linguagem adulta
16 - O OVO DA SERPENTE
Das Schlangenei, Alemanha Ocidental, EUA,1977, Drama/Suspense, 119 minutos
Direção: Ingmar Bergman
Elenco: David Carradine, Liv Ullmann, Heinz Bennent, Gert Fröbe, James Whitmore, Toni Berger, Erna Brünell, Paula Braend, Georg Hartmann, Kyra Mladeck
Berlin 1923, Abel Rosenberg, um trapezista desempregado, tenta entender a razão do suicídio do seu irmão. Ele consegue se hospedar no apartamento de um cientista que também lhe oferece um emprego. Sua cunhada trabalhava em um cabaré e acaba indo morar com Abel e também consegue um emprego oferecido pelo cientista. No trabalho, Abel desconfia de algo errado com as tais experiências e, ao investigar, descobre que estão sendo feitos experimentos médicos com seres humanos em nome da ciência e da supremacia da raça ariana.
A Alemanha se encontra em crise na república de Waimar por consequência da Primeira Guerra Mundial. Os cidadãos vivem em crises existenciais, econômicas e sociais e o poder político está em declínio por causa das circunstâncias pós-guerra. Neste ambiente de caos, O Ovo da Serpente encontra o ambiente para ser chocado e, com sua frágil casca, eclodir com força e dar origem ao regime nazista, mudando os rumos da história da Alemanha e de todo o mundo.
É mostrado como Hitler encontra um povo disposto a colocá-lo no topo da hierarquia, indiferente a seus métodos cruéis e racistas. Este ambiente favorável a Hitler é trazido pela fome, desemprego, superinflação e violência urbana.
Liv Ullmann com seu olhar intenso é perfeita na atuação. David Carradine também dá lições de interpretação neste longa.
O Ovo da Serpente é um trabalho político e intenso de reconstituição de época e uma análise da Alemanha antes do surgimento do Nazismo.
Jean-Luc Godard disse sobre Ingmar Bergman: "O cinema não é um ofício. É uma arte. Cinema não é um trabalho de equipe. O diretor está só diante de uma página em branco. Para Bergman estar só é se fazer perguntas; filmar é encontrar as respostas. Nada poderia ser mais classicamente romântico".
Fabrício Borges Moreira
NÃO RECOMENDADO PARA MENORES DE 18 ANOS
Tema: Pré-Nazismo
Contém: Violência física e psicológica, tensão e consumo de drogas lícitas
23 - ENTRE OS MUROS DA ESCOLA
Entre les Murs, França, 2007, Drama, 128 minutos
Direção: Laurent Cantet
Elenco: François Bégaudeau, Nassim Amrabt, Laura Baquela, Cherif Bounaïdja Rachedi, Juliette Demaille, Dalla Doucoure, Arthur Fogel, Damien Gomes
O filme é baseado no livro homônimo de François Bégaudeau que no filme fez o papel de François Marin, um professor de francês. Entre os alunos deste professor, estão estereótipos facilmente identificáveis: o menino que é mais tímido, aquele que tem problemas com os pais, o bagunceiro, a garota que é a porta-voz da turma, e por aí vai. O filme é um retrato abrangente e complexo da realidade do sistema educacional, não só o francês, pois situações do filme são presenciadas por todos nós na escola; aqui o roteiro trabalhado por Cantet e Bégaudeau não dita a ‘boa moral’: não há redenções ou conclusões, nem há a ‘lição aprendida’.
O personagem do professor François é, ao mesmo tempo, o herói que tenta salvar aquela turma do caos da realidade social e o vilão que quebra a linha de conduta com seus alunos em alguns momentos. No entanto, seus métodos são admiráveis: estimular o conhecimento dos alunos, dar enfoque do que está ensinando no cotidiano, e não apenas dar nota ou tirar nota pelo comportamento, ou esperar o sinal tocar ou somente passar a lição de casa.
O longa se passa numa sala de aula na periferia de Paris, que reúne imigrantes de diversos países com diversos pontos de vistas entre si, porém Marin dá voz a todos. Contudo o modelo de aula do professor de francês lida com diversos problemas: a desmotivação de estudantes, os problemas familiares que influenciam do aprendizado, a tendência natural dos adolescentes de testar as autoridades presentes, as divergências originadas pelas múltiplas descendências, etc.
Uma curiosidade interessante é que todos no elenco são professores, alunos e pais também na vida real, embora não estivessem interpretando a si próprios. Entre os Muros da Escola venceu a Palma de Ouro no Festival de Cannes de 2008.
Fabrício Borges Moreira
NÃO RECOMENDADO PARA MENORES DE 12 ANOS
Tema: Conto semi autobiográfico
Contém: Linguagem chula e depreciativa
30 – NÃO HAVERÁ SESSÃO
Apoio Cultural VIDEO 21
O CDCC fica na Rua Nove de Julho, 1227, Centro.
Mais informações:
Tel.: (16) 3373-9772