UFSCar 27 de Novembro de 2019
Uma equipe multidisciplinar, formada por integrantes da UFSCar e de outras instituições, investiu esforços para desenvolver as bases teóricas e experimentais capazes de gerar uma levedura geneticamente modificada com alta afinidade à melanina, o que a torna resistente à radiação ultravioleta (UV). Entre as possíveis aplicações, a nova levedura tem o potencial de viabilizar as etapas de esterilização (por radiação) do mosto de cana-de-açúcar durante a produção de etanol nas usinas sucroalcooleiras, sem interromper a fermentação, gerando economia de tempo e dinheiro. O projeto, intitulado "Astroshield: expanding the frontiers of life", foi coordenado pelo professor Francis de Morais Franco Nunes, do Departamento de Genética Evolutiva (DGE) da UFSCar.
O docente da Universidade explica que a contaminação do mosto de cana-de-açúcar pode gerar muito desperdício e, consequentemente, perdas financeiras significativas, uma vez que a produção de etanol deve ser interrompida para que os biorreatores sejam descontaminados adequadamente. "O procedimento de limpeza utiliza ácido forte, envolve alto custo e pode gerar subprodutos com impacto ambiental negativo. Esses problemas podem ser potencialmente resolvidos com uma etapa de esterilização à base de UV, que eliminaria todos os microrganismos contaminantes - os quais não conseguem sobreviver a banhos de luz UV -, exceto a nossa levedura resistente a UV, que permaneceria viva e funcional, fermentando o caldo de cana e produzindo etanol, uma matriz energética relevante para o Brasil", detalha Nunes.
A equipe de trabalho é formada em sua maioria por membros da comunidade da UFSCar, entre eles, graduandos dos cursos de Biotecnologia, Engenharia Física, Ciências Biológicas e Ciência da Computação, além das parcerias com a Universidade de São Paulo (USP), tanto com o professor Otavio Henrique Thiemann e um aluno de mestrado, ambos do Instituto de Física de São Carlos (IFSC), quanto com Ana Carolina Souza Ramos de Carvalho, doutora em Biologia pela USP e integrante do Astrolab do Instituto de Química (IQ).
O trabalho da equipe se insere no âmbito da Biologia Sintética, uma área emergente da Ciência que busca o desenvolvimento de soluções inovadoras para questões ligadas à saúde, à agricultura, à produção de energia, à preservação dos ecossistemas, à tecnologia, entre outras. Tem, portanto, caráter multidisciplinar envolvendo Biologia, Química, Física, Engenharia, Programação e Matemática.
Segundo o professor Francis Nunes, o projeto continua em andamento e, para isso, precisa de apoio financeiro: "A nossa ideia é ajudar a viabilizar a produção de alimentos - via fermentação, como pão - durante explorações espaciais, quando ocorre alta incidência de radiações, em futuras viagens para Lua ou em uma potencial colonização do planeta Marte".
Premiação
No último dia 4 de novembro, a equipe da UFSCar responsável pela pesquisa recebeu medalha de prata na maior competição internacional sobre Biologia Sintética - o International Genetically Engineered Machine Competition (iGEM), que aconteceu em Boston, nos Estados Unidos.
Este ano a competição iGEM contou com 353 times, dos quais 150 concorreram ao patrocínio da empresa Promega. "A nossa equipe foi uma entre as 10 contempladas com o The 2019 Promega Corporation iGEM Grant", comemora o professor da UFSCar. O trabalho contou também com patrocínios das empresas Fermentec, Exxtend, Saros136, Ruralpec, Jena Bioscience/Cellco, IDT, TWIST Bioscience, New Englan Biolabs e da Reitoria da UFSCar, além de campanha crowdfunding pela plataforma Catarse.
Os avanços da equipe estão documentados no endereço https://2019.igem.org/Team:Sao_Carlos-Brazil.
Clube de Biologia Sintética
O desenvolvimento do projeto para a participação da UFSCar na competição iGEM faz parte das atividades do Clube de Biologia Sintética, vinculado à Pró-Reitoria de Extensão (ProEx) da Universidade e sob a coordenação do professor Francis Nunes.
"A Biologia Sintética é uma área científica nova e emergente, mas ainda pouco difundida, não só para a comunidade em geral como também no meio industrial", conta Nunes. "A área está em intensa expansão, recebendo cada dia mais investimentos tanto de agências de fomento à pesquisa quanto de empresas. E não temos na UFSCar nenhuma disciplina de Biologia Sintética ou Departamento de Biologia Sintética. Sabendo da existência de pessoas interessadas em Biologia Sintética, criamos o Clube", diz ele.
Com discussões sob a ótica de diferentes expertises e trocas de experiência, o Clube permite pensar coletivamente sobre o desenvolvimento de soluções para resolver problemas do cotidiano como despoluição ambiental, produção de alimentos (mais seguros e mais saudáveis), produção de energia limpa e sustentável, geração de novos medicamentos e métodos de diagnóstico etc.
No Clube, cujas reuniões vêm ocorrendo desde junho de 2018, são bem-vindos estudantes de todos os cursos e instituições de São Carlos e região. "Nas reuniões de 2019, foi frequente a participação de alunos de outros cursos de graduação e pós-graduação, mesmo de outras instituições, e também de pessoas que não cursavam o Ensino Superior, o que evidencia que o projeto cumpriu seu papel de extensão à comunidade", avalia Fernando Henrique Santos de Souza, graduando em Biotecnologia na UFSCar e membro da equipe de trabalho e do Clube.
As atividades do Clube ocorrem semanalmente, às terças-feiras, das 19 às 20 horas, na sala 174 do edifício de aulas teóricas AT7, localizado na área Norte do Campus São Carlos da Universidade. Em 2019, a última reunião ocorreu no dia 26 de novembro. O calendário das atividades para 2020 ainda está sendo elaborado. Para saber mais sobre o Clube de Biologia Sintética da UFSCar, acesse as páginas no Facebook e no Instagram.
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