O professor Edmundo Escrivão Filho, da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP, acredita que o principal fator que faz com que as pesquisas sobre a micro-empresa não deslanchem nas universidades brasileiras é a falta de continuidade dos estudos. “O que a gente vê é um pesquisador que faz uma pesquisa por uns três anos e para, outro que fica uns dois anos e também interrompe... falta uma sequência”. É justamente com o objetivo de suprir essa lacuna é que o Grupo de Estudos Organizacionais da Pequena Empresa (Geope), coordenado por Escrivão e sediado na EESC, mantém-se na ativa há 12 anos.
Os resultados se detectam com facilidade. Já saíram do Geope 49 pesquisas concluídas sobre o tema, nos níveis de mestrado, doutorado e iniciação científica. Hoje, há 11 estudos em andamento, também divididos nas três categorias. Assim, o Geope alcança a meta basal sobre a qual foi fundado: ser um referencial acadêmico para o setor.
Com essa consolidação, o grupo apresenta para 2009 e os próximos anos uma diferente meta, mais ousada; quer ver seus estudos implantados na prática, quer que os conceitos de gestão discutidos no laboratório passem para o cotidiano de micro e pequenas empresas no Brasil.
Para isso, o Geope tem lançado mão de parcerias. Uma delas é com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a primeira e maior referência no país quando se fala nas corporações de tamanho reduzido. Outras parcerias se formam com empreendedores da região de São Carlos.
Rede
Edmundo Escrivão Filho diz que a consolidação dos trabalhos do Geope permite que o grupo apresente seus modelos teóricos para que estes sejam aplicados nas pequenas empresas. “Nós temos um modelo fortalecido, preparado. Então é hora de passarmos a executar atividades de intervenção e prática”, explica.
A ambição do grupo é que seja formada uma rede. De empreendedores, para que os conhecimentos sejam postos à prova; de pesquisadores, para que a falta de continuidade criticada e já combatida pelo Geope seja sepultada de vez.
Os trabalhos com os empreendedores terão como um dos focos as incubadoras de empresas. Nesses espaços, como o Cietec, pessoas que têm idéias de produtos são recebidas e contam com suporte para que suas iniciativas cheguem ao mercado. Escrivão vê nesse público um perfil adequado para os trabalhos do Geope: “há uma certa deficiência que se repete entre o pessoal incubado. São ótimos técnicos, mas que têm dificuldade para serem gestores”.
Algumas ações do Geope nesse sentido já contemplam pequenas empresas dos ramos metal-mecânico e hoteleiro. Para atrair outros empresários, o grupo frequentemente promove atividades como palestras e seminários, que são abertos a todos os interessados.
Pesquisas
Apesar da pequena tradição acadêmica, Escrivão acredita que o ramo das pequenas empresas passa por uma evolução significativa e que os estudantes que optarem pela atuação nessa área terão boas oportunidades profissionais.
O que se explica, de acordo com o professor da EESC, pela realidade do mercado de trabalho brasileiro: “antigamente, o engenheiro que ia a uma pequena empresa para tentar implantar práticas de gestão se deparava com profissionais pouco qualificados, que não estavam em condições de compreender esse tipo de linguagem. Hoje, há muitos empresários com graduação, mestrado, doutorado, de forma que é muito mais fácil trabalhar com um projeto mais elaborado”. De tal transformação, Edmundo Escrivão Filho é testemunha: seu pai era um micro-empresário e ele vivenciou de perto o crescimento da profissionalização das gestões.
Como estímulo aos alunos, o professor Escrivão cita o fato da dissertação de mestrado Planejamento estratégico como ferramenta de competitividade na pequena empresa: desenvolvimento e avaliação de um roteiro prático para o processo de elaboração do planejamento, (www.teses.usp.br/teses/disponiveis/18/18140/tde-27052004-110812) defendida por Ana Cláudia Fernandes Terence, orientanda do Geope, ser uma das mais acessadas no Banco de Teses da USP (www.teses.usp.br). “Esse é um acontecimento muito importante. Mostra que o que estamos fazendo tem interessado muito às pessoas”, conclui.